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Entre O FUD e O FOMO

  • Foto do escritor: Fernando Ximenes
    Fernando Ximenes
  • 13 de dez. de 2024
  • 3 min de leitura

Atualizado: 15 de dez. de 2024



Ouvi falar do FUD (Fear, Uncertainty and Doubt) pela primeira vez na década de 1970, como tática de marketing utilizada pela IBM para lançar dúvidas sobre a continuidade dos seus concorrentes na área de hardware.

Alguns anos mais tarde, a Microsoft usou as mesmas armas contra produtos alternativos ao sistema operacional DOS, e depois Windows.

O efeito prático era uma pressão de fora para dentro, que criava barreiras de entrada para os competidores e barreiras de saída para os clientes atuais, produzindo um mercado cativo e uma espécie de monopólio informal.

Mas o FUD parece brincadeira de criança perto do que estava por vir. Na virada para o século XXI, a internet começava a subverter o mundo da tecnologia.


Eu era sócio da KPMG Consulting, que preparava uma abertura de capital na NASDAQ, e encomendou uma pesquisa em larga escala com altos executivos para saber o que tirava o seu sono.

E a maioria esmagadora respondeu: “Um concorrente que surja do nada e acabe com o meu negócio“.


A bolha das dot-com’s ainda não havia estourado, a America Online (quem se lembra?) acabara de comprar a Time Warner, a WorldComm e a Enron não haviam falido, o Google era uma criança e o Facebook nem existia. Porém o medo estava no ar.


Com base nessa pesquisa, foi produzido um comercial para a televisão americana que mostrava um executivo pescando de terno, num lago plácido. De repente, um peixe maligno surgia do nada, arrancava o anzol, e devorava o pobre sujeito.


O que antes era um medo induzido de fora para dentro, havia se transformado num medo interior, numa insegurança crescente que nunca mais nos abandonaria.


O FOMO (Fear of Missing Out) veio para ficar.


Num giro de 180 graus, o receio de tomar a decisão errada foi substituído pelo erro de não tomar a decisão – fosse ela qual fosse. Mesmo que errada. Fracassar virou moda, desde que fracassemos depressa (fail fast).


A indecisão executiva está na raiz da indústria de autoajuda que invadiu o mundo empresarial. Porém a autoajuda é apenas a ponta do novelo.


O segmento de consultoria foi um dos primeiros a perceber o tamanho da oportunidade, e desde então bombardeia o mercado com a ameaça permanente de revoluções, transformações, e disrupções transformadas em métodos, soluções e estratégias que se sucedem quase com a mesma rapidez com que os modelos de smartphones.


Os peixes se tornaram cada vez mais ferozes.


A consultoria passou a ser vendida, em grande parte, como um produto de consumo de massa. A linguagem da racionalidade foi substituída pelo estímulo ao desejo. Os adjetivos tomaram o lugar dos substantivos. O visual prevaleceu sobre o conteúdo. Segredos de sucesso, dicas, insights, thought leadership são apresentados como verdades absolutas – feitas para não durar. Amanhã vai ser outro dia, e já aprendemos a esquecer rápido.


Os executivos passaram a ser manipulados como adolescentes que aceitam qualquer coisa para não se sentirem excluídos.


Porém há leis imutáveis, e uma delas nos diz que a toda ação corresponde uma reação igual em sentido contrário.


Nasce daí um espaço fértil e praticamente desocupado, para consultores que sejam capazes de tratar seus clientes como adultos. Deixar de lado a tática do medo.

Interpretar esse tsunami de soluções à procura de problemasSeparar o que é espuma do que é substância. Reconhecer os limites da certeza. Transmitir a tranquilidade do risco calculado, em lugar do salto no escuro. Traduzir suas conclusões em serviços sérios, viáveis, e cada vez mais modernos, sem serem modernosos.


O FUD perdeu o sentido, quando passamos a tratar todas as soluções como precárias e provisórias, pois desapareceram as barreiras de entrada e as barreiras de saída. O


FOMO só se tornará poeira quando percebermos que, às vezes, é preferível perder o voo do que embarcar no avião errado.




Artigo editado pela última vez em 12 de dezembro de 2024.




Referência

1 Definição de FOMO, extraída da Wikipedia, https://en.wikipedia.org/wiki/Fear_of_missing_out  em 4 de outubro de 2020.



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